quarta-feira, 4 de julho de 2012

O que acontece com Ridley Scott?


O título do post é a pergunta que me veio à cabeça assim que saí da sessão de Prometheus umas duas semanas atrás. Porque esse Ridley Scott certamente não é o mesmo que dirigiu Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner – O Caçador de Andróides, duas das melhores ficções científicas da história do cinema.

O Prometheus de Scott está muito mais próximo de um trabalho do diretor de Cruzada (leia aqui minha resenha no Delfos) e Robin Hood (o qual também resenhei, e você pode ler aqui), filmes tecnicamente impecáveis, mas totalmente desprovidos de alma. Completamente mornos. Se a comparação for só com alienígenas, então o filme está mais próximo, em termos de qualidade, da franquia Aliens vs. Predador do que da série Alien propriamente dita.

Esperava muito desse filme. Era a sua volta à ficção científica após 30 anos. Era o prelúdio de Alien, um dos meus filmes favoritos. Era a chance de Ridley, que nos últimos anos vinha patinando em produções sem punch, de pegada frouxa, de voltar às suas origens, recarregar as baterias e mostrar que ainda tinha lenha pra queimar. Pena que não conseguiu mostrar isso.

Muito se fala da trama do filme e seu paralelo com o mito de Prometeu como se isso o tornasse uma ótima história, mas eu pergunto, e daí? Isso (usar mitos e lendas antigas como fonte de inspiração) é tão batido quanto a famigerada jornada do herói. Funciona, óbvio, senão não seria usado, mas não é novidade nenhuma. Achei a trama simplesmente boba. Um meio para se chegar a um fim. Poderia facilmente ser substituída por qualquer outra coisa sem mudar em nada o resto do filme.

Mas ao menos ele poderia compensá-la matando todo mundo de medo claustrofóbico como havia feito no longa de 1979. Também não conseguiu. Tem alguns sustos baratos e as criaturas estão longe de serem tão icônicas quanto o alienígena original. Também é esquisito os momentos em que, por algum motivo, tenta chupar de O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, quando a própria mitologia da série Alien não pede por isso.

O pior mesmo é o tratamento dado ao space jockey, a criatura gigante e morta que tanto fascinou no primeiro filme (e isso sendo apenas parte do cenário) e aqui ganha papel de destaque. Acabou com toda a mística e magia da criatura. Para transformá-la no que virou, era melhor ter criado novos personagens. Em certos momentos, o personagem, e o longa por consequência, beira um Sexta-Feira 13 espacial. Abordagem pra lá de equivocada.

Quem carrega o filme nas costas e torna a experiência de assisti-lo ao menos suportável é Michael Fassbender (sempre ele). Seu andróide David é de dar arrepios sempre que está em cena com sua voz suave e seus modos educados. É, sem dúvida, a grande força da película, e quem desencadeia o desenvolvimento da trama, ainda que a atitude que toma para colocar tudo em movimento simplesmente não faça sentido.

Cenas como a do parto, que era para ser uma das sequências fortes do filme, em comparação com a cena do nascimento no filme original, só servem para mostrar como os anos foram cruéis em eliminar a visceralidade do diretor inglês, tornando tudo hermético e limpo, mesmo com sangue e gosma jorrando. Ainda assim o visual é clean, não causa choque nenhum, se tanto um leve desconforto.

Ridley Scott estagnou, e parece não saber o que fazer para sair dessa situação. O fato é que desde Gladiador (em 2000!) ele não fez mais nada digno de grande nota. O único filme seu recente que me surpreendeu positivamente e do qual gostei bastante foi Rede de Mentiras, de 2008. Talvez por ter (ou ao menos aparentar) uma escala menor que suas produções costumeiras. Por ter cara de obra menor dentro de sua filmografia, livrou-se do peso da responsabilidade. Pôde ser assistido e apreciado inteiramente sem o peso de tanta bagagem que o nome de seu diretor carrega.

Esse pode ser o caminho para ele se reinventar. Abandonar as grandes produções e se concentrar em filmes menores. Deixar grandes histórias, grandes cenários, exércitos de figurantes e efeitos especiais de ponta de lado e privilegiar um bom roteiro, um elenco enxuto e o básico de produção. Diminuir drasticamente a escala e, de fato, fazer um back to basics.

Se continuar como está, seria melhor então que se aposentasse de uma vez. Principalmente se ele realmente levar em frente a continuação de Blade Runner. Se ela seguir os moldes de Prometheus, certamente será tão decepcionante quanto. E certamente voltará a suscitar a mesma pergunta: o que acontece com Ridley Scott?

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